As explosivas greves dos operários da construção civil, que trabalham nas obras do PAC, se converteram no mais importante fato político nesses primeiros cem dias de governo Dilma e contam com nosso total apoio e solidariedade.
A fama de boa gerente e de excelente administradora, cunhada pelo ex-presidente Lula e pela grande imprensa, não passou a primeira prova diante das péssimas condições de trabalho e dos baixos salários enfrentados pela peãozada, que se alçou à revelia das centrais sindicais e expôs a crise de direção que passa o movimento sindical brasileiro.
Nas obras do PAC faltam banheiros (inclusive feminino), os refeitórios são pequenos e inadequados para se alimentar, a alimentação é de péssima qualidade, os alojamentos mais parecem um campo de concentração, os salários são baixos e boa parte do que é recebido é deixado no comércio varejista, improvisado à beira de estradas esburacadas que chegam a cobrar por um sabonete, um tubo de creme dental ou um maço de cigarros, o mesmo valor de um PF (prato feito) no centro de São Paulo. Essas péssimas condições de trabalho têm responsáveis. Em primeiro lugar, o governo, que despeja bilhões de reais nas mãos das empreiteiras com quase nenhum controle. Em segundo lugar, as empreiteiras, principais financiadoras de campanha dos partidos governistas e finalmente, mas não com menor culpa há que apontar o nefasto papel das burocracias sindicais que estão se lixando para as condições de trabalho e só aparecem porque querem receber o imposto sindical ou quando há uma grande revolta como aconteceu agora.
O governo injetou via BNDES R$ 7,2 bilhões de reais para a construção da usina hidrelétrica de Jirau e outros R$ 6,1 bilhões de reais para a usina de Santo Antônio, ambas em Rondônia, de um total que pode chegar até a conclusão das obras em 2017 na ordem de R$ 25 bilhões (68,5% do empreendimento), sem exigir e fiscalizar de forma adequada as condições em que vivem os (as) trabalhadores (as) nos canteiros de obras. Esta situação levou que os 22 mil trabalhadores em Jirau, 16 mil em Santo Antônio (RO), 27 mil na refinaria Abreu e Lima e Petroquímica SUAPE (PE), 6 mil na Termelétrica de Pecém (CE), 2 mil na hidrelétrica São Domingos (MS) e 1.943 em Porto do Açu (RJ) deflagraram uma massiva greve. Surpreendido, ao melhor estilo da ditadura militar, o governo do PT não teve melhor idéia que enviar a Força Nacional de Segurança Pública para reprimir a manifestação operária. Enquanto isso, as centrais sindicais governistas, CUT e Força Sindical, alheias aos verdadeiros problemas dos trabalhadores, acusavam as bases de vândalos, tentando ocultar sua traição.
Esse fato não ocorreu por acaso. Chegado ao poder, Lula e o PT para dar continuidade ao projeto neoliberal de retirada de direitos e conquistas dos trabalhadores, cujo símbolo foi a primeira reforma da Previdência, tiveram uma política de cooptação dos dirigentes sindicais. Para tanto, concederam importantes cargos públicos com altíssimos salários e cheios de privilégios e mordomias. Exemplo disso é o ex-presidente da CUT Jair Meneguelli, que hoje dirige o sistema ‘S’ (SENAI, SESC, SENAC) e Luiz Antônio de Medeiros, ex-presidente da Força Sindical, atualmente ocupando cargo de secretário de relações do trabalho no Ministério do Trabalho. Dessa forma, abandonaram os trabalhadores à sua própria sorte e dedicaram seu tempo a negociar novas mordomias e espaço no governo Lula. Como afirmou o deputado Paulinho, dirigente da Força Sindical, processado por uso indevido de fundos obtidos do governo: “...nunca saímos de mãos vazias no governo Lula”. Istoé 16/02/2011.
A grande preocupação da burocracia sindical passou a ser a disputa dos 1.300 cargos comissionados, o controle de cerca de R$ 200 bilhões anuais correspondentes aos fundos de pensão das empresas públicas, a manutenção de seus altos salários na direção de estatais e os R$ 100 milhões de reais do imposto sindical que lhes foi presenteado por Lula, e ao que tudo indica será mantido por Dilma. Enquanto isso, os banqueiros, donos de indústrias e latifundiários, praticam as maiores atrocidades possíveis com os trabalhadores. Por isso, nem a CUT nem a Força Sindical tem legitimidade para negociar com o governo e os patrões as justas reivindicações dos trabalhadores do ramo da construção civil ou de qualquer categoria que faça luta em nosso país.
Os acordos celebrados entre CUT, Força Sindical, governo e empreiteiras, para se ter qualquer validade, devem obrigatoriamente ser submetidos às assembléias de base da categoria, nos canteiros de obras. Lamentavelmente a CSP – Conlutas, que aceitou participar da comissão tripartite, que de forma envergonhada está sendo chamada de “Comissão Permanente de Negociação”, legitimou essa negociação e perdeu uma grande oportunidade de se postular como alternativa de direção ao sindicalismo chapa branca e de denunciar o papel pelego que tiveram as direções da CUT e Força Sindical frente a esses conflitos.
Não podemos aceitar nenhuma demissão ou retaliação aos trabalhadores grevistas que devem ter estabilidade no emprego até a conclusão das obras.
Devem ser os Comandos de Greve, as CIPAS e os delegados sindicais de base, os legítimos representantes dos trabalhadores nas negociações junto ao governo e aos patrões. Fora os burocratas sindicais vendidos! Que ao invés de defender os trabalhadores, negociam com o governo e as empreiteiras, os interesses dos trabalhadores, em troca do desconto do imposto sindical.
Não temos dúvidas que as vitórias salariais e a conquista de melhores condições de trabalho até agora obtidas foram produto da luta e mobilização dos próprios trabalhadores e não das negociações entre as centrais sindicais pelegas, o governo e as empreiteiras.
A luta dos trabalhadores da Construção Civil de Jirau e Santo Antônio, deve servir de exemplo para as categorias em mobilização e que preparam suas campanhas salariais.
A classe trabalhadora, fundamentalmente a peãozada, que muitos diziam ter perdido seu papel histórico na conformação de uma nova sociedade, deu uma lição aos coveiros do socialismo e da luta de classes. Os povos do Xingu que lutam contra a construção de Belo Monte agradecem.
São José dos Campos - São Paulo, 25 de março 2011
Coordenação Nacional de UNIDOS PRA LUTAR! e Coletivo Estudantil Vamos à Luta
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